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domingo, 20 de maio de 2012

Só precisam cumprir a Constituição

A política brasileira vive um momento de crise Institucional. E essa crise é originada do fato de que os poderes da República esqueceram-se de que sua principal função é a de cumprir a Constituição.

Nesses tempos, dois grandes escândalos estão em suspenso, e caberia aos Poderes Judiciário e Legislativo darem a esses escândalos os destinos que a sociedade espera deles: a punição.

O primeiro desses escândalos, parece uma história sem fim; o Mensalão como ficou conhecido, destacou-se como o maior escândalo de corrupção da nossa história. E passados mais de sete anos desde o surgimento desse escândalo, não houve nenhum participante sequer punido, aliás, o caso ainda nem sequer foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal.

Sob o risco dos crimes do Mensalão prescreverem, "salvando" os 38 réus denunciados, o processo tramita na burocracia do STF, aguardando o relatório final do Ministro Ricardo Lewandowski para daí sim, entrar na pauta do Tribunal e ser finalmente julgado.

Enquanto isso, a morosidade da Justiça e a burocracia do sistema acabam por dar a sociedade, a sensação de impunidade em um país em que os crimes demoram para ser julgados e os criminosos que usam a máquina pública para se manterem no poder, permanecem intocáveis.

Do outro lado da Praça dos Três Poderes, o Congresso Nacional protagoniza mais uma CPI, dessa vez, sob o pretexto de apurar o escândalo Carlinhos Cachoeira e seu relacionamento com políticos de diversos partidos.

Contudo, desde a sua criação, a CPI tem caminhado a passos lentos, como e faltasse vontade política, para alcançar as respostas que a sociedade exige após as denúncias e vazamentos de escutas telefônicas que envolveram integrantes dos "negócios" de Cachoeira, com Deputados, Senadores, Governadores, vereadores, prefeitos, Ministros; caraterizando um verdadeiro Poder Paralelo, instalado debaixo dos olhos da República, e que funcionava na base de troca, em que os políticos representavam interesses do bicheiro, em troca de financiamento de suas campanhas.

Sem falar nas recentes denúncias, que ligaram os protagonistas do escândalo a uma importante empreiteira, que contratada pelos Governos, em especial o Federal, mantinha obras importantes por todo o Brasil, sendo uma das grandes construtoras das obras da Copa do Mundo de 2014, e das obras do PAC - carro chefe do Governo Lula/Dilma.

Nas escutas telefônicas, mais de 85 políticos são citados nas conversas de Cachoeira, e enquanto isso, a CPI bate recorde como a mais lenta dos últimos 20 anos, traduzindo o "corpo mole" que vem sendo feito, para tirar o foco do Mensalão (que vai ser julgado no STF) e blindar políticos e Governos inteiros, envolvidos até o pescoço com Cachoeira, a empreiteira Delta e companhia...

Um dos Governadores envolvidos, é o do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, por sua proximidade com o dono da empreiteira Delta, após a divulgação de vídeos em que os dois demonstram a amizade mútua, em viagem que fizeram à França, para uma "missão oficial à trabalho" do Governador. Para completar, o ex-líder do Governo petista, Deputado Cândido Vacarezza, foi flagrado mandando uma mensagem de texto para o Governador fluminense, e na mensagem amplamente divulgada pela imprensa, ele garante ao Governador que irá blindá-lo e não permitirá que ele seja colocado no foco das investigações da CPI.

O que estranha, é que segundo delegados ouvidos pela CPI, Sérgio Cabral não teria com o que se preocupar, já que não aparece nas escutas telefônicas da quadrilha de Cachoeira, e então, por que Sérgio Cabral teria que ser blindado pela base Governista na CPI? Teria Cabral, alguma coisa com o escândalo do Cachoeira e da Delta? - são essas perguntas que a CPI não quer responder.

Essa semana, surgiu suposto boato que oposição e Governo teriam feito acordo para blindarem os Governadores envolvidos no escândalo, focando a investigação na quadrilha de Cachoeira. Isso sem dúvida nenhuma tira o crédito da CPI, desmoraliza o Parlamento e acentua a crise Institucional que envolve o Congresso desde 2007, após denúncias envolvendo sucessivos Presidentes do Senado, que continuam a dar as cartas por lá...

Aprofundando a crise, o dono Delta anunciou que iria vender a sua empreiteira, e em menos de duas semanas, finalizou a venda. Até aí tudo bem; contudo, os compradores dessa empresa - que segundo o seu ex-dono, estava falida - são os donos de um dos maiores frigoríficos do país, e efetuaram a compra da empreiteira, graças a parceria que tem com o BNDES, banco público que oferece dinheiro para projetos de interesse nacional com juros baixos. Ou seja, a empreiteira "falida", segundo seu ex-dono, envolvido no escândalo investigado pela CPI, vendeu a empresa a outros empresários, que utilizaram dinheiro público, do BNDES - subordinado ao Governo Federal, para efetuar a compra.

Como se vê, Legislativo, Judiciário e Executivo estão envolvidos até o pescoço nesses escândalos. Seja na lentidão para julgar o Mensalão ou para investigar Cachoeira, a Delta e o seu relacionamento com políticos. Cabendo à imprensa denunciar e à população se indignar diante daqueles que insistem em não cumprir seu papel Institucional. Ao Judiciário, cabe julgar e punir; e ao Legislativo, investigar. Basta apenas, que cada um cumpra o seu papel e repeite a Constituição.

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