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terça-feira, 2 de agosto de 2011

Arquivo - 09/10/2002

Trechos do Artigo de Gustavo Franco, na VEJA de 09 de Outubro de 2002.

"...Um volume possivelmente inigualável em matéria de transformações no país: estabilização, abertura, desregulamentação, privatização, saneamento do sistema bancário, a volta do investimento direto, o crescimento da produtividade, a reforma na Previdência e o conceito de responsabilidade fiscal.

Cada um desses processos ensejou uma revolução em nossa economia, e todos foram conduzidos na plenitude democrática, com os consensos devidos e com as broncas inevitáveis, que atestam a profundidade das mudanças. Mas o sucesso de público é indiscutível, a julgar pelas vitórias eleitorais consagradoras de FHC, eleito e reeleito no primeiro turno, como nenhum outro presidente brasileiro.

As reformas feitas por FHC tinham em comum o fato de beneficiar maiorias desorganizadas e dispersas em todo o território nacional em detrimento de minorias privilegiadas e militantes, sempre próximas de Brasília e incansáveis em seu ânimo de espernear.

Ainda que minoritários, os descontentes com a transformação do Brasil em uma economia de mercado moderna formam uma incômoda legião. Do jornalista que perde sua "boquinha" num banco estadual privatizado aos potentados industriais dependentes de "política industrial", passando pelo trabalhador paulista que viu seu emprego migrar para Sobral, todos se unem em um mal-estar com as mudanças, normal em qualquer episódio de rápida transformação, mas que desgasta a liderança.

No Brasil, em particular, esse desgaste é mais forte que em outras partes, pois aqui sempre fomos uma sociedade fundada sobre o privilégio, onde nunca existem derrotados na arena econômica, apenas vítimas da ação do Estado, injustiçados pelo soberano, que tudo pode, de modo que não há fracasso privado, só o provocado pelo governo e merecedor de indenização. A sociedade do privilégio é também uma sociedade de pensionistas, ou de funcionários públicos, como me sugeriu um leitor.

Passada a eleição, afastados os publicitários e o véu que colocaram sobre a realidade do país, o novo presidente terá diante de si desafios monumentais, pois não existem fórmulas fáceis para melhorar o Brasil. O novo presidente terá a seu favor o fato de que a parte mais difícil do trabalho necessário para construir uma economia de mercado forte já está bem avançada (já foi feita).

O primeiro e mais duro teste para o novo presidente, no qual se não obtiver sucesso todo o resto ficará viciado, talvez seja enfrentar uma tradição brasileira, que consiste em negar qualquer mérito a seus antecessores.

Comentário
Um breve resumo do Governo FHC, as transformações feitas, o legado deixado para o seu antecessor, que em Outubro de 2002 ainda estava indefinido, já que este artigo foi escrito no meio do 2º turno das eleições, em que Lula e Serra disputavam a Presidência.

Lula acabou sendo eleito, mas caiu na tradição brasileira, descrita no último parágrafo do artigo, em que o candidato eleito que se torna Presidente, acaba negando qualquer mérito de seus antecessores.

Lula foi além, tendo sido contra o Plano Real, viveu os bons anos de calmaria e estabilização, fruto do desse mesmo programa econômico, implantado por FHC.

Lula também criticava o excesso de viagens do antecessor, não achava certo o aumento dos juros para controlar a inflação, mas quando foi eleito, deu continuidade ao aumento dos juros e bateu recordes ao redor do mundo: viajou por quase 3 anos dos 8 de seu Governo.

Lula tentou recontar a história, como se os seus antecessores nada tivessem feito, como se ele tivesse dado ao Brasil, a estabilização econômica, a distribuição de renda e a independência nacional. Em seus discursos desmerecia todos os que vieram antes dele, valorizou o imediatismo e a propaganda, queimou a sua ideologia e a história "limpa e ética" do seu partido, o PT, participou de cerimônias de inauguração de quadras poliesportivas que já existiam, de campus de Unversidades que não funcionam, de maquetes de obras..., fez pirotecnia e criou siglas publicitárias, mas as Reformas de fato, que mudariam o Brasil, ele trancou na gaveta das promessas de campanha, não cumpridas.

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